Primeiro-Ministro vai hoje à RTP debaixo de fogo pelo caso da Universidade Independente. O Diário Económico avança as 10 perguntas a que Sócrates não pode fugir.
Quando José Sócrates aparecer hoje perante as câmaras da RTP, a pergunta que estará na cabeça dos portugueses será, com certeza, esta: que explicação tem o primeiro-ministro para a polémica em torno da sua licenciatura na Universidade Independente? Perante o clima de suspeição agravado com novos dados vindos a público ontem, e depois da decisão do Governo em encerrar a instituição, Sócrates aparece para esclarecer o seu currículo académico, escamoteado nas últimas semanas. Para preparar a entrevista desta noite, o primeiro-ministro tem-se reunido com o seu círculo mais próximo e ontem terá também recebido em São Bento o ministro da Ciência e Ensino Superior, Mariano Gago - que gere o dossier da UnI. Do lado de cá do ecrã, portugueses e especialmente oposição aguardam “explicações cabais” de Sócrates. Caso isso não aconteça, os partidos admitem pedir a sua presença perante o Parlamento para esclarecer os deputados.
Entre a enchente de telefonemas que inundou São Bento, há uma garantia que o Governo vai dando: “O primeiro-ministro não deixará de preparar a entrevista, mas sem que isto prejudique a sua agenda normal”. A prová-lo é apresentada a agenda de hoje, dia das explicações, em que consta um almoço com a homóloga da Nova Zelândia. Isto como quem diz que o país não foi deixado para segundo plano. Mas certo é que, desde antes da Páscoa - quando prometeu aos jornalistas “notícias a seu tempo”- , Sócrates não foi visto em público e nos últimos dias os contactos com o seu gabinete têm sido mais difíceis do que é habitual: telefones desligados, chamadas não atendidas e raramente devolvidas.
O formato escolhido para a entrevista permitirá ao chefe do Executivo desviar atenções das dúvidas em torno da licenciatura em Engenharia Civil, obtida em 1996, centrando-as nos resultados que diz ver no país. Afinal, o pretexto é o do balanço de dois anos de governação. Ainda assim, os esclarecimentos sobre o seu diploma são incontornáveis - Sócrates terá que clarificar ao país “tudo”, pressiona a oposição. “E tudo o que for abaixo de tudo é pouco”, sublinha ao Diário Económico Miguel Macedo, secretário-geral do PSD. Também do PSD, Paula Teixeira da Cruz, deixa claro que “estamos perante uma questão de verdade para com o país, que é grave”.
A juntar às dúvidas das últimas semanas, ontem surgiu mais uma: na biografia oficial da Assembleia da República, no período entre 1991 e 1995, já constavam as habilitações literárias de licenciado em Engenharia Civil de Sócrates. Grau que, segundo a UnI, só obteve em 1996. O gabinete de Sócrates diz tratar-se de “um lapso” atribuível apenas aos serviços do grupo parlamentar ou da AR. Mas estes garantem que se limitam a transcrever os dados preenchidos pelos deputados no impresso destinado ao efeito. Certo é que quando foi eleito deputado pela primeira vez, em 1990, a sua biografia mencionava um bacharelato em Engenharia Civil pelo Instituto Superior de Coimbra. Dados alterados em 1993, mas que Sócrates diz agora desconhecer.Para já, os partidos políticos aguardam o desfecho da entrevista da RTP para se pronunciarem sobre o tema. Entretanto, Francisco Louçã (BE) diz ser “preciso perceber quem favoreceu quem” no caso UnI, enquanto Nuno Magalhães (CDS) quer privilegiar “as explicações no lugar onde serão dadas, embora o Parlamento seja o mais institucionalista”. Santana Lopes foi até agora o único deputado a defender uma clarificação de Sócrates perante o Parlamento. Mas fonte do PSD adiantou ao DE que o partido não pretende fazê-lo. Até porque quando estava no Governo, o PS pediu para Paulo Portas ir à AR esclarecer o caso Moderna e a resposta social-democrata foi não; o então ministro da Defesa acabou por dar essas explicações numa entrevista televisiva, como Sócrates fará hoje. Junto de Portas o argumento é outro: o PSD quer apenas evitar discutir a passagem de Marques Mendes, como professor, pela Universidade Independente.
As dúvidas que ainda pairam sobre Sócrates
Como pode a UnI aceitar a inscrição de Sócrates, dar-lhe equivalência a 26 disciplinas e permitir que praticamente concluísse a licenciatura sem prova das suas habilitações?
Segundo as informações disponíveis, Sócrates nunca entregou na UnI o certificado de habilitações referente às disciplinas concluídas no ISEC. E só a dois meses de receber o diploma terá apresentado o comprovativo das 12 cadeiras concluídas no ISEL.
Ninguém reviu a biografia do primeiro-ministro antes de ser publicada? Em dois anos, nunca Sócrates ou alguém do seu gabinete reparou que continha erros e omissões?
A biografia de Sócrates no portal do Governo apresentava-o como “engenheiro” - designação entretanto alterada para “licenciado em Engenharia Civil” -, referia uma pós-graduação em Engenharia Sanitária que nunca fez e omitia o seu MBA em Gestão.
Como é que a biografia de Sócrates na Assembleia da República indica a conclusão da licenciatura em 1993, se o primeiro-ministro apenas a concluiu três anos depois?
Na biografia dos deputados da Assembleia da República (AR), consta do currículo do primeiro-ministro uma licenciatura em Engenharia Civil, concluída em 1993. Mas terá sido apenas três anos depois, a 8 de Setembro de 1996, que José Sócrates obteve o diploma.
In Diário Económico
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