Houve, ou não, pressão do gabinete do primeiro-ministro sobre os directores dos órgãos de comunicação social que veicularam as notícias que questionavam a autenticidade da licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente? Houve, de facto, afiançam estes directores, uma série de telefonemas do assessor de José Sócrates a contestar a notícia, numa tentativa de travar a sua repetição na emissão... e houve até a ameaça de um recurso aos tribunais. "Neste caso da Independente senti a pressão, a posteriori, ou seja, apenas depois de termos dado a notícia", conta ao DN Francisco Sarsfield Cabral, director da Rádio Renascença (RR).
Sarsfield Cabral é, alias, um dos directores que será ouvido quinta-feira na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) sobre as tentativas de condicionamento dos media pelo Governo denunciadas numa notícia do Expresso sob o título "Impulso irresistível de controlar" do primeiro-ministro.
A notícia do semanário refere que no dia 22 de Março, após o noticiário das oito da manhã da Renascença , onde reproduziu a notícia do Público sobre Sócrates e a Independente, "os assessores do primeiro-ministro despertaram para um frenesim de telefonemas". "A notícia de facto provocou telefonemas dos assessores do primeiro-ministro, que até foram desagradáveis. Houve uma certa pressão e chegou a falar-se em tribunal. Ai eu disse: a conversa acaba aqui", relatou o director da RR, assegurando que "esta situação da Independente foi um caso isolado".
Na próxima quinta-feira, no âmbito da mesma notícia, serão ainda ouvidos na ERC o director do Público, José Manuel Fernandes, e o director da SIC Notícias, Ricardo Costa. Na semana seguinte, no dia 18, será ouvido o assessor de José Sócrates, David Damião. E esta pressão que os directores dizem ter sentido, é ocasional ou recorrente? O director da RR garante que foi "pontual". José Manuel Fernandes alinha pelo mesmo diapasão.
"Senti que naquela situação [da Independente] estava a haver pressão. Foi a primeira vez que recebi telefonemas directamente do gabinete do primeiro-ministro. Não é habitual. Eventuais telefonemas que recebo de gabinetes ministeriais não os entendo como controlo", reagiu ao DN José Manuel Fernandes. O DN tentou chegar à fala com Ricardo Costa mas até ao fecho desta edição, o director de informação da SIC Notícias esteve indisponível para comentar. Já José António Saraiva, do semanário Sol, e Octávio Ribeiro, do Correio da Manhã, lembram que telefonemas para os jornais e tentativas de pressão sempre existiram e asseguram que nunca sentiram controlo da parte do Governo. "Só se deixa pressionar quem quer", diz o director do Sol. "Os telefonemas que eventualmente recebo não os aceito como controlo", afirma Octávio Ribeiro.
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