Por Dr. Luís Ganhão (*)
.
Não faltou, pós-25 de Abril, quem se tivesse fartado de «mamar» na «teta» do Estado, desde empreiteiros de obras públicas cobrando a final o dobro ou o triplo do inicialmente orçamentado, passando por comerciantes que, quando se tratava de vender ao Estado, inflacionavam os respectivos preços e este pagava de cara alegre e sem pestanejar, até a «assessores» de entidades diversas – de ministros, secretários de estado, presidentes de câmara, etc. – pagos principescamente, sendo que o «saber e competência» de muitos destes «boys» até por um simples merceeiro de bairro seriam rejeitados.
No entanto, neste país onde a culpa sempre morreu solteira, aí estão, agora, os professores, os magistrados e o funcionalismo público em geral a servirem de «bodes expiatórios» por certa classe política que, curiosamente, em sucessivas alternâncias de exercício de poder, consentiram e fomentaram tal «mamar», pela secagem da «teta», com congelamentos de salários, de progressão nas carreiras, aumento da idade de aposentação, etc., por mais que entre eles possamos encontrar verdadeiros servidores da causa pública, trabalhando com abnegação, muitas vezes sem horário, sem estímulo e nas mais degradantes condições.
Uma classe política onde, ao invés, cada vez menos serão os que se movem por ideologias de bem comum e mais os que procuram com o estatuto de «político» um bom lugar no conselho de administração duma qualquer empresa ou escritório de advogados, num mundo em que as fronteiras entre interesse público e interesses privado se vão esbatendo e basta no «currículo» ter-se «conhecimentos» (1).
Se observarmos, então, o trajecto, em particular, de alguns membros dessa classe política, veremos como sempre souberam estar nos «sítios e hora certos», fosse na Macau das «patacas», nas instituições dos «euromilhões» ou saltitando entre o público e o privado, quando não com um pé num e um pé noutro ao mesmo tempo, num assegurar de fonte de rendimentos que lhes permitisse passar ao lado das sucessivas «crises» em que o país tem vivido mergulhado.
Isto, enquanto toda uma classe média cada vez mais o é menos, alienada de tal realidade por bem orquestradas e mais bem promovidas campanhas futebolísticas e quejandas ou facilidades crescentes de pagamento em prestações que lhe são concedidas, fazendo-a sentir-se serenamente «levitando», numa ilusão de fartura sem fim (2).
.
(1) Quando perguntaram a um ex-primeiro-ministro como via o seu futuro profissional, este respondeu, sem papas na língua (valha-lhe a frontalidade e a não hipocrisia!), que sem preocupação, pois o cargo que exercera permitira-lhe muitos «conhecimentos» (as aspas são nossas, que o homem respondia oralmente e não por escrito)
.
(2) Em tempo de férias, aconselhamos, vivamente, um livrinho da autoria de Fernando Correia, «Jornalismo, Grupos Económicos e Democracia», Editorial Caminho. Custa menos que meia dúzia de imperiais e lê-se num fim de tarde.
* Advogado
edit post

Comments

0 Response to 'O Estado e a Nação ou o Estado desta'