Desde 1983 como auditor jurídico no Ministério da Administração Interna, a escolha de Mário Gomes Dias para vice-procurador-geral da República não entusiasma os magistrados do Ministério Público. O procurador-geral adjunto está ligado a dois casos que, no último ano, marcaram o MAI: o negócio do SIRESP (Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal) e a aposentação compulsiva do dirigente do SPP/PSP António Ramos.
O facto de, nos últimos 20 anos, ter estado afastado da realidade dos tribunais e próximo do poder político é apontado como o seu principal handicap. Sobretudo depois da nomeação de um juiz-conselheiro para procurador-geral da República, a máquina do Ministério Público esperava um "número dois" que conhecesse o sistema por dentro. O nome deverá ser apresentado, na próxima terça-feira, pelo procurador-geral, Pinto Monteiro, aos elementos do Conselho Superior do Ministério Público, a quem cabe nomear o vice-procurador-geral da República.
Quem trabalhou com Mário Gomes Dias na Directoria de Lisboa da PJ aponta-lhe qualidades de liderança e dedicação. "É um homem da linha dura", disse ao DN um inspector que solicitou o anonimato. Enquanto auditor do MAI, propôs a expulsão do histório dirigente sindical José Carreira. O então ministro Alberto Costa converteu a proposta numa multa. Mais tarde, ilibou o "guarda Abel" da PSP no episódio das agressões no túnel do Estádio das Antas.
Recentemente, deu parecer no processo disciplinar a António Ramos, dirigente do Sindicato dos Profissionais da Polícia, na sequência de declarações prestadas aos jornalistas, em que o sindicalista criticava o primeiro-ministro José Sócrates, afirmando que o enviava para o Quénia. Mário Dias Gomes subscreveu a aposentação compulsiva. No documento a que o DN teve acesso, Dias Gomes afirma que o dirigente sindical proferiu tais palavras de uma "forma intimidativa e ameaçadora" para o primeiro-ministro.
Parecer favorável ao SIRESP
O nome de Mário Dias Gomes surge também ligado ao negócio do SIRESP (comunicações entre policias), decidido no final da anterior legislatura pelo ministro Daniel Sanches (após um "parecer verbal" de Mário Dias Gomes) e cancelado pelo ministro da Administração Interna, António Costa (e entretanto já renegociado). O antigo ministro, num artigo no Público, foi taxativo: "O senhor auditor jurídico foi peremptório em afirmar ser a adjudicação um acto de gestão, passível de ser praticado naquelas circunstâncias." Porém, o Conselho Consultivo da PGR "chumbaria" o negócio, considerando não se tratar de um acto urgente a praticar por um governo em gestão.
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