Anabela Ferreira estaciona o carro num dos parques junto ao rio Tejo. No momento em que sai da viatura, um casal aproxima-se. O homem, com cerca de 40 anos, aparentemente de etnia cigana; a mulher ronda os 20.
“A senhora é juíza”, afirma o homem. O tom é ameaçador e a magistrada opta por negar. Diz-lhe que não, mas ele insiste: “É sim senhora, mandou-me três anos para a cadeia. Vai pagar por isso.” A juíza olha em redor. Não há ninguém a quem pedir ajuda. Decide não oferecer resistência. O homem avança. Dá-lhe um puxão na mala e morde-lhe na mão para que ela largue as chaves do carro. Mete-se no veículo, um Volvo V50, arranca e vai-se embora. Leva pela frente a cancela do parque de estacionamento.
A cena passou-se ontem, em plena luz do dia. Ao que o CM apurou, a juíza não conseguiu identificar o homem e nem sequer se lembra de o ter condenado.
Os dentes do agressor, apesar de não terem rasgado a pele, ficaram marcados na mão da juíza, que, hoje, vai fazer exames ao Instituto Nacional de Medicina Legal.
Segundo um dos colegas da juíza ouvido pelo CM, a magistrada ficou abalada, não tanto pelo sucedido, mas pelo facto de saber que aquele homem que clamava vingança, que lhe levou o carro e lhe deixou a marca dos dentes nas mãos, tem na sua posse documentos que a identificam.
A ligação desta agressão à segurança dos magistrados é inevitável. Por arrasto, vêm as críticas: “As políticas de descredibilização do Governo redundam nisto. Lidamos com uma franja da sociedade que não se pauta por valores éticos normais. Apesar de terem o seu próprio código de conduta, antigamente ainda tinham algum temor; agora, é o que se vê. Um indivíduo mete-se com um juiz e faz uma coisa destas.”
QUEM É A JUÍZA
Anabela Ferreira tem 43 anos, é divorciada e tem uma filha de 18. Foi chefe de gabinete do secretário de Estado da Administração Judiciária quando Santana Lopes era primeiro-ministro.
A magistrada está agora no Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa e já deixou os tribunais criminais há seis anos. Foi dela a decisão que impediu os militares de se manifestarem em Setembro do ano passado contra as medidas de austeridade anunciadas pelo Governo. Foi também ela quem condenou o Estado pelo atrasos da Justiça no caso da Caixa Económica Faialense.
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