«Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, o Engº José Sócrates pediu-me para o contactar com urgência, para este fax privado na certeza de que o meu amigo compreenderá a necessidade de que esta mensagem não seja amplamente divulgada, pois destina-se apenas ao núcleo de pessoas do partido envolvidas na campanha do Soares. O que se passa é bastante grave e exige da nossa estrutura uma intervenção rápida e sigilosa.
A sondagem porque aguardávamos foi-nos entregue hoje de manhã e indica claramente uma derrota de Soares em relação ao Alegre, numa diferençaque ultrapassa os 5%, sendo que a margem de erro desta sondagem é de apenas 3%. Também nas últimas sondagens a publicar esta noite e amanhã pela comunicação social esta derrota é evidenciada. Por outro lado, a hipótese do Cavaco não ganhar logo à primeira volta existe e não está completamente afastada. Na sondagem do PS indica 51%, mas como a margem de erro é de 3%, e com a tendência de descida que se verificou, é muito provável que o Cavaco fique abaixo dos 50% obrigando a uma segunda volta, por uma muito pequena diferença de votos.
Neste caso, teríamos um cenário desastroso para o governo, para o PS e deixaria o Engº Sócrates numa posição fragilizada, ao ter avançado com a candidatura de Soares e ver-se depois obrigado a apoiar o Alegre para a segunda volta, sendo certo que este poderá recusar publicamente este apoio.
Assim, o pedido que tem sido dirigido apenas ao núcleo de apoiantes da candidatura do Soares é de que tentem influenciar as pessoas que estão mais próximas de vós, sempre pessoalmente, para que votem em branco, ou mesmo que votem no Cavaco, para assegurar que não haja segunda volta, e o governo não saia fragilizado desta eleição. O melhor argumento a apresentar é de que uma segunda volta, a existir, será um desperdício de verbas do orçamento, uma vez que as sondagens indicam que se não passar na primeira volta o Cavaco ganhará folgadamente contra o Alegre na segunda volta. Escusado será insistir na confidencialidade deste assunto».
Em causa está uma directiva que dá aos cidadãos de países terceiros o direito a puderem residir durante cinco anos num Estado-membro, se tiverem já vivido durante outro tanto noutro país, igualmente membro da União Europeia.
O prazo para a transposição das normas comunitárias para o direito nacional termina segunda-feira e, até agora, apenas a Áustria, a Eslovénia, a Lituânia, a Polónia e a Eslováquia aplicaram a nova legislação.
A Comissão Europeia diz que não vai tolerar mais adiamentos e promete accionar judicialmente os Estados-membros, entre os quais Portugal, que não estão a cumprir as novas regras.
A Associação de Consumidores de Portugal (ACOP) denunciou hoje o incumprimento da Lei da Informação dos Combustíveis, que obriga revendedores a afixar preços, por causa do atraso na publicação do despacho com o modelo.
A Lei, aprovada em 10 de Outubro de 2005, deveria ter entrado em vigor no dia 01 de Janeiro de 2006, mas o despacho conjunto que define o modelo do painel de informação apenas foi publicado no dia 09 deste mês.
"Até hoje não se viu nada nas auto-estradas e fora delas, estando a legislação a ser completamente ignorada", disse à agência Lusa José Eduardo Frota, da ACOP.A Lei da Informação dos Combustíveis obriga os revendedores instalados nas auto-estradas e fora delas, a colocar painéis de informação com os preços fora dos postos de venda, nas vias rodoviárias, para que os consumidores possam optar em função do preço.
"Quando é que a Lei vai entrar em vigor?" questiona a ACOP, adiantando que vai dirigir ao secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor "uma denúncia para exigir o pronto cumprimento da lei em homenagem aos interesses económicos dos consumidores".
Fonte: Diário Económico
O novo tribunal europeu terá competências de um tribunal judicial normal de primeira instância com as adaptações exigidas pela sua dimensão universitária. Segundo uma nota informativa do Ministério da Justiça, «este projecto está a ser desenvolvido no âmbito de uma política de modernização dos serviços de justiça, no contexto de uma sociedade do conhecimento e da inovação».
«(...) O processo Casa Pia, que teve fugas permanentes ao segredo de justiça, alimentou a comunicação social com transcrições de escutas que violam os direitos dos cidadãos.
(...) Não sigo os que defendem o fim das escutas telefónicas, considero-as fundamentais para o avanço da investigação criminal. Mas têm de ser feitas com profissionalismo, rigor e controlo de quem de direito. Deveria ser criada uma comissão, eleita pela AR, com cidadãos insuspeitos, para fiscalizar, com poderes totais, todas estas situações e criminalizar a sério todos os que violem a lei».
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N.R.
I. Onde se lê «cidadãos insuspeitos», leia-se "políticos, lobbies e seus prosélitos boys & girls".
II. Onde se lê «com poderes totais», não é lapso de escrita.
III. Onde se lê «criminalizar», não é equívoco. Foi efectivamente dito pelo "circulante", que sugere que uma comissão política tenha funções não simplesmente acusatórias, mas condenatórias (quando é que na história da humanidade ocorreu algo semelhante ? Pretende porventura o comentador o regresso à Diabólica Inquisição ?)
Por J.G., às 20 Janeiro, 2006
Não deixa de ser hilariante o facto de o autor dessas palavras considerar que o controlo das escutas (e recordemos que todo este burburinho surgiu de algo que não são escutas...) deveria ser feito por "cidadãos insuspeitos" e "impolutos" como ele!!
Por Anónimo nominado, às 20 Janeiro, 2006
O Grande e Inefável Coelhone... Fugiu-lhe a boca para a verdade...
Por INTROMETIDO, às 20 Janeiro, 2006

O Procurador-geral da República (PGR) «não tem o direito a pronunciar-se em sede parlamentar sobre um documento de um processo criminal pendente, nem a Assembleia da República tem direito a perguntar-lhe», afirmam os advogados da Casa Pia e das alegadas vitimas do processo de pedofilia em julgamento.
«Uma audição parlamentar do PGR sobre factos ou incidências processuais de um qualquer processo judicial pendente configura acto ilegítimo da Assemblei a da República, concretamente intromissão abusiva deste órgão de soberania na esfera privativa de acção do poder judicial», argumentou José António Barreiros, que lidera a equipa de advogados.
Esta tomada de posição está relacionada com a ida de Souto Moura à Comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, sexta-feira, para prestar esclarecimentos sobre o registo telefonemas de altas figuras do Estado incluídas no processo Casa Pia e outras questões.
Face «a tal insólita situação», os advogados da Casa Pia «sem quererem contribuir para a discussão pública da substância do caso que lhe está confiado, mas no exercício indeclinável de um direito de cidadania», entenderam posicionar-se hoje contra a ida de Souto Moura ao Parlamento.
Os advogados da Casa Pia «repudiam vivamente» a iniciativa parlamentar de audição do procurador-geral da República, considerando que a interferência da Assembleia da República «é ainda mais grave se o objecto da inquirição for a análise e a discussão de documentos do processo criminal em curso».
Os advogados da Casa Pia argumentam que a AR «não tem competência para conhecer, discutir ou resolver matérias que estejam sujeitas em processo próprio ao poder judicial» e que, «a fazê-lo, poderá estar em causa um acto grave de condicionamento da independência dos tribunais e da autonomia do Ministério Público (MP)».
Para José António Barreiros, «essa incompetência parlamentar absoluta é ainda mais evidente tratando-se, como é o caso, de discutir as condições sobre as quais foi produzido, obtido, conservado, acedido e manipulado um documento de um processo criminal pendente».
«A situação assume foros de intolerável, a tratar-se de um acto de intervenção política numa matéria sobre a qual, e é disso que se trata, já foi deter minada, pelo colectivo de juízes, a efectivação de uma averiguação e perícia por entidade independente, tendente a apurar a fidedignidade do documento em causa e as condições em que se procedeu à divulgação pública do mesmo», defendem.
José António Barreiros afirmou que «em nenhum preceito da Constituição se diz que a Assembleia da República possa inquirir o Procurador-Geral da República ou quem quer que seja com funções em processos pendentes sobre o conteúdo de tais processos».
«Se é grave que a AR intervenha a propósito de processos judiciais pendente, mais grave que se pronuncie sobre documentos concretos desses processos, gravíssimo é que se possa sobrepor àquilo que já está determinado por juízes nesse processo», adiantou.
Os representantes da Casa Pia entendem que o PGR, «garante que é da legalidade, não tem, no que respeita a processos judiciais pendentes, que prestar contas nem ao Presidente da República, que o nomeia, nem à AR, à qual é estranho».
José António Barreiros lembrou que corre actualmente um processo quanto a este incidente (registos de chamadas), o que ainda «torna mais inaceitável a discussão do caso em sede parlamentar».
Os advogados da Casa Pia aguardam que se obtenham conclusões jurídicas no foro judicial, «fora de quaisquer condicionantes de cunho político».
«A Administração Fiscal e os tribunais vão poder notificar os contribuintes sobre multas ou processo na Segurança Social através de correio electrónico, em resultado da modernização dos meios de correspondência legal, refere o Jornal de Negócios de quinta-feira.
Esta possibilidade de notificação por via electrónica vem através da Caixa Electrónica Postal Universal (CEPU), que será disponibilizada pelos CTT e deverá arrancar durante o primeiro trimestre do ano, refere a mesma fonte.
De acordo com o artigo, a maioria das empresas privadas que efectuam citações de qualquer ordem também poderão aderir a este novo serviço.
Assim, notificações para pagamento de impostos, informações sobre liquidações fiscais ou contribuições em atraso, citações para processos de execução fiscal ou para comparências em tribunal, e multas de trânsito, são apenas alguns dos exemplos citados no jornal para utilização do novo suporte de correspondência oficial que em breve chegará a casa dos portugueses.»

Na minha opinião melhou bastante quer no visual quer na navegação.
O governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Portugal mantém 2 milhões de cidadãos na miséria.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Mais 300.000 Portugueses passariam fome não fora as ajudas do banco alimentar.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Apenas 2.154 contribuintes declaram rendimentos anuais acima de 50.000 contos. Há 3 anos eram 24.654.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
As forças de segurança não têm meios de combate ao crime.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Portugal é o país mais pobre da Europa dos 15.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Portugal tem os salários mais baixos da Europa dos 15.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Portugal tem dos preços mais caros da Europa dos 15.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
As empresas estão a abandonar o país aumentando o desemprego.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Idade de reforma passou para os 65 anos.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Está a ser ponderada a redução das pensões de reforma.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
As comparticipações na compra de medicamentos foram reduzidas.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Está orçamentado no PEC o aumento dos impostos.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Nos últimos 6 anos os salários cresceram abaixo da inflação.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Portugal tem uma das maiores cargas fiscais na Europa.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
A justiça não funciona.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
O país está endividado. Cada cidadão deve 2 mil contos ao estrangeiro.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Portugal tem desde há muito uma prática despesista e de obras de fachada.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Portugal tem uma máquina burocrática pesadíssima.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Portugal tem milhares de funcionários públicos excedentes.
E o governo vai admitir mais 1.000 funcionários para o fisco.
Ou seja, o governo tem uma única preocupação relativamente ao cidadão: garantir que recebe os impostos que decreta. Se o povo trabalha ou não, se tem dinheiro para comer, se tem alguma segurança financeira, se tem um tecto para viver, não lhe interessa, inclusivé, se ainda lhe resta dinheiro para pagar mais impostos, pouco importa. Penhore-se a enxerga ao devedor. Por isso e para tal, vamos lá a reforçar a equipa colectora. E que não se fique por meia dúzia de novos funcionários. Logo mil para ver se ninguém escapa. O dinheiro tem que entrar, porque as sanguessugas são muitas.
«O recurso está condenado, logo nesta fase preliminar, por claros motivos de inadmissibilidade e não menos de não oposição de julgados, à sua não prossecução, nos termos dos artg 441 nº1, e 440 nº1 do CCP, o que se delibera, em conferência neste Supremo Tribunal de Justiça», escrevem os conselheiros no seu acórdão.
Após o Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) ter confirmado a «não pronúncia» de Paulo Pedroso, Herman José e Francisco Alves, a Casa Pia de Lisboa decidiu recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) pedindo que este fixasse «jurisprudência».
No recurso, os advogados das vítimas alegavam que o desembargador Carlos Almeida não podia ter entregue a análise do recurso ao juiz Rodrigues Simão, porque colocou em causa o princípio do «juiz natural». O próprio TRL já tinha considerado inválida uma situação semelhante, quando Avelino Frescata, do Tribunal de Instrução Criminal, passou o processo Casa Pia ao juiz Rui Teixeira.
Esta decisão do TRL, relativa às decisões do juiz Rui Teixeira, obrigou mesmo a magistrada que preside ao julgamento da Casa Pia, Ana Peres, a revalidar os actos de Teixeira.
Os representantes das vítimas do processo pretendiam que perante dois acórdãos de sentido oposto, o Supremo fixasse jurisprudência. Uma considerava ilegal o facto de o juiz Avelino Frescata ter passado o processo de pedofilia a Rui Teixeira; e a segunda que permitia que Carlos Almeida entregasse a análise a Rodrigues Simões.
Segundo informou fonte do tribunal, Manuel Cardoso vai aguardar julgamento no estabelecimento prisional das Caldas da Rainha.
O homem, que depois de ferir com gravidade o militar de 26 anos se barricou dentro de casa durante 28 horas, chegou às 14:00 ao Tribunal de Torres Vedras tendo sido ouvido pelo juiz de instrução criminal durante cerca de três horas.
À saída do tribunal algumas dezenas de populares aguardavam para ver o homem, que saiu algemado e rodeado de polícias.
Manuel Cardoso esteve barricado desde o meio-dia de segunda-feira, altura em que seis elementos da GNR de Vila Franca de Xira se deslocaram a sua casa munidos de um mandado de busca.
Esta acção da GNR relacionava-se com um processo em que está indiciado o filho de Manuel Cardoso por suspeitas de furto de viaturas e assalto a residências.
Após ter sido abordado pelos militares que iam recolher provas, Manuel Cardoso desferiu um tiro de caçadeira, atingindo gravemente um militar, cegando-o da vista esquerda, e causando ferimentos ligeiros noutro.
Após um longo período de negociações que envolveram equipas especializadas da GNR, Manuel Cardoso, que esteve barricado durante 28 horas, acabou por se entregar às autoridades sem oferecer resistência.
Link: http://www.dirtrabalho.blogspot.com/
Reproduzo aqui as ligações para todo o processo legislativo de adaptação do sistema de ensino superior português ao processo europeu de Bolonha:
Anteprojecto de Decreto-Lei que regula o regime jurídico dos cursos de especialização tecnológica(Ficheiro em PDF com 26 páginas, 124 KB. Necessita de ter instalado o programa Acrobat Reader. Em caso de dúvidas consulte a secção de Ajuda).
Anteprojecto de Decreto-Lei do regime especial de acesso ao ensino superior para maiores de 23 anos(Ficheiro em PDF com 26 páginas, 8 KB. Necessita de ter instalado o programa Acrobat Reader. Em caso de dúvidas consulte a secção de Ajuda).
Anteprojecto de Decreto-Lei dos graus e diplomas de Ensino Superior (Ficheiro em PDF com 43 páginas, 173 KB. Necessita de ter instalado o programa Acrobat Reader. Em caso de dúvidas consulte a secção de Ajuda).
Fonte: Portal do Governo
Devido à tomada de posição dos advogados, a juíza-presidente decidiu interromper a audiência e prosseguir os trabalhos amanhã, pelas 09h00, informa a Lusa.
Antigamente (e falo no passado recente) alguns chegavam ao poder encapotando os meios que, por isso, não eram visíveis ao comum dos cidadãos. Hoje vale tudo e é à descarada. A moralidade (com “cavalas” ou sem elas) agora é uma: a escalada ao poder de obscuros interesses esfomeados.Revisitando a história no feminino, por este andar, qualquer dia só com uma Padeira de Aljubarrota é que se consegue acabar de vez com essas manipulações…
Se estiver de acordo com a iniciativa, basta "clicar" no endereço abaixo indicado e junte o seu nome aos milhares de subscritores da referida petição.
Subscreva a Petição: Português na ONU.
Para mim, os dados agora trazidos às primeiras páginas dos jornais, e que logo alcançaram a "dignidade" de caso político, nada têm de surpreendente, a não ser o facto de ainda causarem surpresa a quem manda alguma coisa neste país. E se há três anos a dimensão que o recurso às escutas telefónicas já atingia em Portugal me fez sentir a obrigação cívica de publicar um livro sobre a matéria, hoje preocupa-me especialmente a surpresa geral manifestada entre a classe política em torno de problemas que de há muito, a par de outros juízes e advogados, venho denunciando como constituindo fortíssimas fragilidades do nossos sistema de Justiça. São elas que põem em causa os direitos mais sagrados dos cidadãos.
A verdade é que, de meio de obtenção de prova excepcional, as escutas telefónicas transformaram-se em meio vulgar de investigação, servindo muitas vezes a mera recolha de informação policial. A quem interessam? Quem faz o tratamento da informação assim obtida? Os tribunais não têm programas informáticos de cruzamento de dados. É sabido ser ao juiz que cabe autorizá-las, mas deliberadamente esquece-se que o modelo de processo escolhido pelo nosso legislador não lhe permite imiscuir-se na investigação. Esta é uma das perplexidades que em exercício de funções encontrei no sistema. Hoje não tenho dúvidas em afirmar ser também por isso que há demasiadas escutas em Portugal.
O problema do excesso nas escutas telefónicas não é diferente do problema das facturações detalhadas, das buscas ou de qualquer outro instituto do processo penal: ao presidir a uma busca domiciliária, como a lei lhe sugere, o juiz assegura maior dignidade ao acto, evitando provavelmente algumas gavetas viradas do avesso, mas quanto à selecção do material que a polícia apreende, pouco ou nada pode fazer. Não tem voz no rumo dado à investigação. Como poderá, com justiça, decidir as delicadas questões que o legislador (pelos vistos, para mera tranquilidade da sua consciência) atribui à sua exclusiva competência como, por exemplo, definir o prazo máximo da prisão preventiva? Como lhe será possível negar a possibilidade de prolongamento do inquérito, se não pode rejeitar a idoneidade do meio de prova que os investigadores afirmam ser ainda indispensável ao seu encerramento?
Pretende-se manter o juiz de instrução afastado da investigação para não ferir a sua isenção, mas depois é preciso ir buscá-lo para restringir os direitos dos investigados, necessariamente de forma cega e, de preferência, também surda e muda. Um bibelot, que saiba dizer sim aos investigadores. Ora, manter o juiz como mera figura decorativa no processo, em tempos de tanta escassez nos tribunais, é puro desperdício. A Justiça precisa de muito mais do que isso!
Enfim, a percepção da surpreendente ignorância demonstrada pela nossa classe política em torno destas questões poderia levar-me a ficar aqui horas e horas a repetir exemplos do mau funcionamento da justiça criminal, mas confesso que já não me apetece. E não me apetece porque me soa a falsa a apregoada surpresa sobre as enormidades a que pode conduzir a aplicação do nosso processo penal. Sejamos claros: hoje, em Portugal, só não conhece os verdadeiros problemas da Justiça - que, como se vê, estão muito para além das férias judiciais - quem não quer.
O nosso legislador, ao pensar o sistema, desenhou um edifício muito bem estruturado em termos dogmáticos, mas na prática inexequível. Um edifício alto e vistoso, mas virtual. Só assim se explica que continue a atribuir ao juiz o controlo das escutas enquanto mantém na exclusiva posse da Polícia Judiciária os meios para as executar.
Agora, para além do Governo e do Parlamento, temos ainda uma Missão da Reforma Penal encarregue de ensinar aqueles a definir a política do país para o sector. Mas a grande questão a resolver persiste. Ela continua a passar por se definir e, acima de tudo, assumir, o que se espera em primeiro lugar do nosso processo penal.
Proteger os cidadãos de procedimentos arbitrários ou investigar a verdade sobre a prática criminosa ainda que a elevado preço para a liberdade e direitos daqueles. São interesses que todos procuramos atenuar, mas que, no limite, nunca serão conciliáveis. Na prioridade dada a um, ou a outro, reside a grande diferença detectável nos modelos abraçados pelos países que nos são próximos. Não é possível fugir mais a tomar uma opção, refugiando-nos em construções convenientemente conciliadores de todos os bons princípios, mas apenas no papel, enquanto as práticas se afundam num fervor incriminatório. Afinal, bem ao estilo de um Estado policial, que todas as sensibilidades políticas censuram, mas nenhum poder instituído altera. What else is new?
Quanto à eficiência o diagnóstico está feito e mais do que feito. O tempo e o modo de funcionamento dos tribunais não resistem à evolução da sociedade. O que antes era lento tornou-se lentíssimo, mesmo que o sistema tenha evoluído em celeridade. Aos olhos dos cidadãos do século XXI, a Justiça está parada no tempo, enquanto a sociedade se move cada vez mais depressa, e refém de interesses corporativos.
O problema, contudo, não é do século XXI, já vem de trás. Não há como ouvir um ex-ministro da Justiça para perceber bem a realidade (vá-se lá saber porquê os ex-ministros são sempre muito mais esclarecedores do que enquanto foram ministros?). Recorro por isso aos números apresentados por José Pedro Aguiar Branco numa conferência realizada no Outono passado: número excessivo de comarcas - 320 (a França, a título de exemplo, tem cerca de 600) - e dois terços da litigiosidade concentrados em quatro comarcas - Sintra, Lisboa, Porto e Gaia - que absorvem apenas um terço dos recursos. Mas disse mais: «Em Portugal continuamos a ter tribunais à distância de cinco minutos com estruturas montadas e problemas de falta pessoal nuns lados e excesso no outro» sem que seja possível mudar as pessoas em conformidade. «Aliás, nem se pode mudar da zona oriental para a zona ocidental de Lisboa»....
Aos problemas de funcionamento juntou-se nos últimos anos um mal maior: uma profunda crise de credibilidade. Habituados a assistirem ao desenvolvimento mediático de grandes processos invariavelmente concluídos sem condenações, sobretudo no domínio dos crimes de colarinho branco, os portugueses começaram a perceber que de facto a culpa morre mesmo solteira. E muitos começaram a duvidar legitimamente da possibilidade de fazer justiça em Portugal.
Está assim seriamente abalado um dos fundamentos do Estado democrático.
O último episódio da divulgação pública das listas de chamadas recebidas e efectuadas pelos telefones de algumas das mais altas figuras do Estado, com o Presidente da República à cabeça, é ilustrativo do estado de descrédito a que se chegou. Independentemente das mais diversas teorias conspirativas postas a circular, todas à volta do interesse da Defesa em desacreditar o processo da Casa Pia, não é possível perceber a utilidade daqueles registos, uma vez que a pessoa que alegadamente motivou o pedido (Paulo Pedroso) nem sequer foi pronunciada. A imagem que dá é de uma profunda incompetência além de uma inaceitável ligeireza no tratamento de aspectos que lesam os direitos e liberdades dos cidadãos.
Enquanto sobem as apostas sobre se é desta que o procurador Souto Moura vê encurtado o seu mandato, é tempo de dizer que os males da Justiça não se resumem a uma figura nem se resolvem com o seu eventual afastamento.
Pode ser um acto higiénico mas o mal é demasiado profundo e exige o empenho activo dos dois principais partidos. Só o PS é que não quer ver.
Saiba mais.
In OA


INFORMAÇÃO SOBRE A LUTA:
Comunicado DN/03/06, de 11/01/2006
Comunicado DN/02/06, de 06/01/2006
Comunicado DN/01/06, de 05/01/2006
DOSSIÊ DE ACOMPANHAMENTO DE ACÇÕES JUDICIAIS
HORAS EXTRAORDINÁRIAS NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: Ministério da Justiça emaranha-se em torpes manobras dilatórias !!!...
A precipitação é inimiga da sabedoria. A precipitação é a arma da insegurança.
No dia de sexta-feira passada o país acordou com uma notícia de um jornalito que pouca dimensão tem e que por isso carece de manchetes escandalosas para que se recorde que o mesmo ainda existe.
Ali se afirmava em letras garrafais que os "órgãos de soberania" - incluindo o Presidente da República - tinham sido objecto de escutas telefónicas no âmbito do processo Casa Pia. E até se indicavam alguns desses órgãos de soberania, designadamente o Dr. Mário Soares - que se saiba, não exerce qualquer função como PR, na AR, no Governo ou nos Tribunais, apenas é membro do Conselho de Estado e este não é um órgão de soberania. Enfim, falta de leitura da Constituição.
Pois bem, todos se levantaram em coro, quais os liberais da Revolução Francesa, a pedir a cabeça, no pelourinho, mas preferencialmente numa bandeja, do Sr. Procurador-Geral da República.
Num país onde a irresponsabilidade é o apanágio dos políticos, onde o princípio da separação dos poderes só interessa quando se quer impôr a submissão de um em relação aos outros, onde o princípio da presunção de inocência é elevado ao máximo dos valores quando determinadas pessoas "destacadas" são alvo de investigação criminal e onde até o Sr. Presidente da República propõe a inversão do ónus da prova (desde que atinja apenas os outros), eis que todos querem um bode expiatório sem culpa formada, apenas e tão só porque sentem que ninguém, absolutamente ninguém, está acima da lei e que eles, políticos, também podem ser objecto de investigação e quiçá, de condenação penal (o que seria algo completamente normal num estado de direito democrático).
Desde logo, o Presidente da República que esteve descansado no dia em que titulares de órgãos de soberania fizeram greve por consideraram estar em perigo o direito fundamental dos cidadãos à independência do poder judicial e ao princípio da separação de poderes, altura que nem uma palavra disse nesse momento, veio logo todo preocupado em comunicado oficial ao país, dizendo:
"Os direitos, liberdades e garantias dos portugueses são um pilar essencial da democracia, que tem de ser preservado, sem quebras, nem hesitações.Perante a notícia, hoje publicada no jornal 24 Horas, de graves violações à reserva da vida privada de dezenas de cidadãos, tornava-se imperioso averiguar da verdade da notícia e daí tirar as necessárias consequências legais e políticas. (...) Independentemente da responsabilidade disciplinar e criminal a que, concluídas as urgentes averiguações em curso, possa haver lugar pelos factos hoje noticiados, também delas tirarei, se for o caso, as adequadas consequências no exercício das minhas competências constitucionais".
Um ultimato, portanto.
Até o Professor Vital Moreira, insigne constitucionalista, máximo defensor dos princípios e direitos fundamentais consignados na Constituição (pelo menos parecia isso que resultava da sua Constituição Anotada que, pelos atropelos que têm vindo a ser feitos pelo próprio autor, já me fez colocá-la de parte, na estante da garagem), veio logo no órgão oficial do status-quo, digo, no seu blog pessoal, atirar à parede todos os citados princípios e sentenciar bem alto: "Se forem verdadeiras as escandalosas notícias sobre os registos pormenorizados das comunicações telefónicas de várias personalidades políticas alheias ao processo na investigação do processo Casa Pia, o destino do PGR só pode ser a demissão imediata. O que, aliás, surpreende é que seja preciso demiti-lo". Pois claro, num país democrático, digo, em Cuba ou nos antigos países de Leste, o procurador era logo cravado com balas e nem sequer seria preciso demiti-lo, disso nós já sabemos.
III. O Lapso
Afinal, depois de toda esta saga, veio a Portugal Telecom dizer... ter tudo sido um lapso. Não foram escutas, foram apenas as facturações detalhadas e porque a pessoa em causa tinha telefone de Estado (algo que uns certos titulares de órgãos de soberania não têm direito mas que continuam a ser rotulados de privilegiados...), a PT forneceu toda a facturação referente ... ao proprietário desse telefone (o Estado), onde se incluíam assim outros telefones.
Do comunicado da PT consta, designadamente o seguinte:
«2. As informações fornecidas dizem respeito a dados sobre facturação detalhada e não sobre escutas telefónicas. A facturação detalhada indica os números marcados, data, dia, valor, duração, hora e custo de chamada.
3. O caso a que se referem as notícias hoje divulgadas reporta-se a uma solicitação de Abril de 2003. As informações solicitadas respeitam os requisitos de confidencialidade na medida em que não identificam o nome dos clientes - não há cruzamento do nome do cliente com o número.
4. Na solicitação referida acima foi expressamente requerido pelo tribunal que a informação fosse entregue em ficheiro electrónico, o que configurou uma alteração aos procedimentos até aí adoptados - listagem impressa em papel.
5. Após averiguação preliminar entretanto já realizada, a PT apurou que a informação foi prestada relativamente aos números solicitados, tendo sido ocultada por um filtro informático os restantes dados referentes a outros números do mesmo cliente - cuja identidade é sempre desconhecida pelos serviços. O sistema informático gera a informação agregada por cliente e não por número da linha de rede. Esta informação foi entregue ao Tribunal de Instrução Criminal em Junho de 2003».
IV. A todo o custo
Os ânimos acalmaram. Afinal, nem foi requerido nem foi investigado nenhum número dos tais «órgãos de soberania». Nem sequer seria possível aos magistrados investigadores saber a quem pertenciam, salvo se estivessem a ligar para cada um dos números (como se sabe, os magistrados não têm mais nada para fazer). E, em bom rigor, até podem nunca ter chegado a tomar conhecimento deles porque estavam protegidos por um filtro informático. E não foram incorporados em qualquer processo.
Sem objecto do "crime", não há "crime".
E apesar do lapso ter sido da PT, alguns jornalistas há, ávidos de sangue, que continuam a "malhar" no MP. É que é sempre mais fácil malhar no MP que na PT (descubram-se as razões de tal discriminação).
E outros políticos continuam na senda da desgraça. Não fora o lapso da PT e tudo se conjugava para, se possível antes da tomada de posse do futuro PR, ser mudada a cadeira do PGR, a bom gosto do Governo, que já tratou de mudar todos os outros lugares chave da República para os seus boys e girls. Mas o lapso da PT cortou-lhes as voltas e têm que arranjar outro expediente, talvez outra notícia escandalosa que tenha sido encomendada ao mesmo ou a outro jornal, para os seus desideratos serem finalmente atingidos.
V. E se fosse o meu ?
Tudo isto aconteceu porque os números da facturação detalhada, os tais números de Estado que os políticos usam e abusam em fazer telefonemas, todos pagos pelas contribuições generosas dos cidadãos portugueses, estavam afectas a determinadas pessoas que logo se inquietaram.
Pergunta hoje Jerónimo Pimentel, no Diário de Notícias: «Concluindo, o que terá provocado a tempestade só pode ter sido o facto de se saber da existência de um envelope com o número 9. E que tudo o que não devia estar no processo da Casa Pia estava ali dentro escondido para uso de uns tantos magistrados. Porque, vendo bem, os políticos estão cansados de saber que houve escutas, atropelos, exageros, e têm vivido com isso. Só que agora apareceu na lista o telefone do... Presidente. E se tivesse sido o meu, também se indignavam?"
É por saber a resposta a essa pergunta que fico apreensivo pelo estado a que chegou este regime a que alguns chamam de democracia.
Números do Estado estão acessíveis
Souto Moura abre os braços, nada na mão, nada a explicar...
Oposição exige saber como tudo se passou
A privacidade ao alcance do clique
Instauração de inquéritos como resposta à turbulência
Telefonemas de altas figuras do Estado juntos por engano
Acesso aos registos telefónicos só foi possível com violação de ficheiros informáticos
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