Eu adoro, confesso, a forma como políticos, economistas e outros responsáveis manipulam mediaticamente as contas e os resultados nacionais. É uma capacidade incomensurável, que varia de governo para governo, de instituição para instituição, de partido para patido, e até de órgão de comunicação social para órgão de comunicação social.

Na sexta-feira, o INE divulgou as primeiras estimativas para o encerramento das contas nacionais, e a verificação, inegável, é que o PIB de 2005, quando comparado com o de 2004, baixou o extraordinário número de 0,8 por cento - de 1,1 para 0,3 -, e só não entrou em recessão pelo consumo verificado no quatro trimestre. Quanto a este facto não há duas leituras.

Ora bem: em 2004, quando Portugal passou um por cento de crescimento, não faltaram análises catastróficas, longos discursos sobre a imensa crise nacional, a falta de visão e perspectivas do Governo em gestão, e o afundamento nacional irreversível em relação à Europa.

Foram discursos dramáticos, análises virulentas, sentenças sem recurso e explicações sem contraditório.

Quem não se lembra dos discursos inflamados na AR do PS, CDU e Bloco de Esquerda, ajudados por uns tantos responsáveis, de instituições que deveriam ser independentes, e por autoproclamados sábios.

Na verdade, Portugal, em 2004, até tinha crescido acima de alguns dos maiores países da União, mas isso não era mérito do País nem força da iniciativa privada e pública. Não, isso era estagnação, pré-recessão, crise e coisas afins. A isto, como convém, juntava-se o défice excessivo - que se mantém - e na sopa que fervia tudo era péssimo, mau, e com um triste fim. Pois...

Veio o Governo socialista e o País, que ainda é o mesmo, teve um recuo substancial, inesperado e inaceitável no seu crescimento, que nada tem a ver com as medidas para controlar e baixar o défice público.

Em condições normais, como está a acontecer na Alemanha, por exemplo, a ideia básica, perante o crescimento de 1,1 por cento em 2004, era a de que o país manteria ou aumentaria a riqueza interna, mesmo que as contas do Estado continuassem desequilibradas por mais alguns anos.

Tanto assim era que o Governo, com uma revisão orçamental, e o Banco de Portugal estimavam crescimentos paralelos ou superiores. Isto só confirma que o PIB nada tem a ver com o défice, embora, naturalmente, contas certas num caso ajudarão sempre no outro. Mas são dados independentes, como se verificou ao longos de décadas em Portugal. Ou noutros países, o principal dos quais, pela assimetria, são os EUA.

Agora, com a vergonha de um míseros 0,3 por cento, ainda há quem diga que o número é razoável, indiciador de um bom desempenho e sinal de uma viragem nos próximos tempos. Para disfarçar a magreza do resultado, a todos os títulos inaceitável e incompreensível, o Governo e o Banco de Portugal garantem que não vão, para já, rever as suas previsões de crescimento para este ano, que num caso são uma perfeita miragem - 1,1 para o Governo - e no outro, o Banco de Portugal, 0,8 por cento.

Convenhamos que já ninguém vai ao engano: daqui a uns meses, ou semanas, quando os portugueses se esquecerem deste resultado, as previsões mudam, para baixo, e poucos darão pela diferença.

E o mais espantoso, tirando o caso do PP, embora muito timidamente, é que a oposição, particularmente o PSD, não consegue criar a mesma dinâmica de responsabilização que era gerada pelo PS e restantes partidos, quando se tratou de avaliar, criticar e martirizar o antigo Governo de coligação.

Assim, sem oposição credível, Sócrates pode descansar, cortar, despedir, reduzir e arrasar sem que uma voz se levante, ou um coro de protestos se agigante. Até ao dia em que o País tem as contas certas, mas está "encerrado"...
In DN
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