Objectos de ouro com um valor comercial superior a 200 mil euros (cerca de 40 mil contos) terão desaparecido da Caixa Geral de Depósitos (CGD). O ourives proprietário dos bens, que acusa o banco, quer agora saber como, quando e porquê. A fiel depositária, apanhada de surpresa, diz estar a averiguar.
Trata-se de bens penhorados que se encontravam depositados à ordem do tribunal num cofre de uma das agências de Lisboa. O depósito dos objectos em ouro num cofre da CGD fora ordenado pelo tribunal no seguimento de um arresto por dívidas da empresa Comércio e Representações - Sociedade Unipessoal, legalmente representadapor Mário Guilhermino de Oliveira, o sócio-gerente.
Após um período de negociações, este empresário conseguiu um acordo de pagamento faseado com o principal credor - a sociedade Ribeiro Coutinho, que requerera a insolvência da sociedade devedora, com o devido procedimento cautelar sobre os bens.
Com o cumprimento do acordo faseado, a 16 de Novembro o tribunal autorizou Mário Guilhermino de Oliveira a recuperar parte do material arrestado - constituído por vários lotes de relógios, e de brincos em ouro branco e amarelo, entre outras peças de ourivesaria - no valor de cerca de 50 mil euros, segundo a avaliação judicial. Nesse mesmo dia, o empresário dirigiu-se à agência da CGD com o precatório cheque (autorização do tribunal para levantar valores penhorados) e procedeu ao respectivo levantamento.
Passado um mês, tendo cumprido o pagamento total da dívida, o tribunal passou um segundo precatório cheque para que o representante legal da empresa devedora levantasse a 15 de Dezembro os restantes objectos arrestados que ainda sobravam no cofre da agência bancária.
Porém, desta segunda vez já nada lá encontrou. Segundo conta Mário Guilhermino de Oliveira, o gerente do balcão, surpreendido com o vazio do cofre, pediu-lhe que voltasse no dia seguinte.
Estando então novamente na agência, o gerente informa-o de que as parcelas de ouro identificadas no segundo cheque precatório haviam sido levantadas a 16 de Novembro, juntamente com as parcelas referidas no primeiro precatório cheque.
Ora, "esta afirmação é uma pura e muito grave mentira", garante Mário Guilhermino de Oliveira em declarações ao DN, tendo usado a mesma expressão na queixa apresentada na Procuradoria do Cliente da CGD, onde também sublinha "As verbas identificadas no segundo precatório cheque nunca foram levantadas, até porque, para sê-lo, era necessária a autorização do tribunal - o que só aconteceu a 15 de Dezembro."
Segundo a avaliação feita pelo tribunal, as parcelas relativas ao segundo precatório cheque - constituídas por brincos e anéis em ouro branco e amarelo, alguns com materiais de joalharia, entre outras peças de ourivesaria - valeriam cerca de 100 mil euros. Mas, para Mário Guilhermino Oliveira, o valor comercial daquelas peças é de 200 mil euros - conforme refere na exposição enviada à CGD a queixar-se do "misterioso sumiço". O sócio-gerente da empresa lesada salientou ainda o "grave prejuízo" causado pela impossibilidade de vender aqueles bens durante a campanha de Natal. "Esta venda seria essencial à manutenção e actividade da empresa, nomeadamente para assegurar o pagamento dos salários e o cumprimento da suas obrigações perante outros credores", garantiu.
Este caso constituiu uma verdadeira surpresa para a CGD. Na sexta-feira, o DN pediu esclarecimentos ao gerente da agência envolvida. Tendo recusado, o pedido de explicações foi remetido para a administração central. Ao que o gabinete de imprensa solicitou algum tempo para que pudesse perceber o que se estava a passar.
Ontem, finalmente, respondeu, mas sem adiantar nada de concreto. A instituição reconhece que um cliente apresentou uma exposição a queixar-se do desaparecimento de bens depositados à ordem do tribunal, mas sem admitir que os mesmos tenham, de facto, desaparecido. "A CGD está a averiguar este assunto em conjunto com o cliente, e logo que se verifique qualquer conclusão será ao mesmo que daremos conhecimento", disse.
Fonte: DN
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