«És Portuguesa?», perguntava o meu colega alemão.
«Sim. Porquê?» respondi.
«Porque a minha mulher-a-dias também é portuguesa», retorquiu.
«Coincidência porque o meu cão também é alemão. É um pastor»
Este diálogo verídico, passou-se quando estudava em Brugges no «College d'Europe». Estávamos nos anos 80 e Portugal ainda não tinha aderido às então Comunidades. Ser português, confundia-se com os operários da construção civil, com as porteiras que tinham imigrado por essa Europa fora à procura de uma vida melhor.
Naquela altura ser um português, ou portuguesa que falava línguas com fluência, conhecia o mundo e a vida e até sabia comer à mesa, era alvo de algum espanto. Tinha de se provar muito para se ser aceite com consideração.
Um pouco à semelhança dos cidadãos dos novos Estados aderentes que começam agora a chegar aos areópagos europeus.
Desde então Portugal valorizou-se extraordinariamente e deixou de ser conotado com as empregadas domésticas.
É confundido com o melhor treinador, como Mourinho e identificado com os melhores futebolistas do mundo. Mas não é só a nível desportivo. Veja-se António Guterres ou Durão Barroso, este o terceiro homem mais poderoso do mundo.
Contudo, mesmo assim, não são poupados a críticas e todos os dias são vilipendiados pelas mais diversas razões. Quase todas mesquinhas e alicerçadas numa inveja pequena e tão lusitana, qual cancro que corrói a nossa sociedade.
Não se ouve, genericamente, nenhum espanhol dizer mal de Javier Solana, porque isso significaria criticar o orgulho nacional do mais alto representante da Política Externa e da Segurança Comum. E sobretudo não os ignoram.
Quantos de nós sabem que é o juiz português no Tribunal de Justiça da União Europeia, o seu Advogado-Geral ou ainda, o Juiz do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem?
Quantos de nós sabem, que, já tivemos um presidente numa instituição comunitária, no caso o Tribunal de Primeira Instância.
Perguntas, provavelmente, para o concurso «Quem quer ser milionário?»
Tal como as pessoas, também os países carecem de auto-estima e de amor-próprio. Até porque não se pode dar aos outros algo que se não tem.
Se fosse possível recuperar o respeito próprio, em suma, a confiança, outro galo de Barcelos cantaria e tudo seria mais fácil.
Porque ao contrário do que se pensa, estupidamente, nem tudo é economia...
In Expresso
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