Portugal é uma vaca.
E é uma vaca com um úbere cheio de tetas.
A vaca é normalmente alimentada a palha nacional.
Já o seu úbere tem recebido fundos comunitários desde há cerca de duas dezenas de anos.
Até agora, as clientelas e os chicos-espertos mais não tinham do que, usando de toda a trucagem, conseguir uma teta e, como soe dizer-se, 'mamar à grande e à francesa' (seja lá isso o que for, por exemplo, pode ser plantações de jeep's).
Acontece que a fonte que alimenta o úbere está a secar.
Parece também que vai faltando terreno para plantar tanto jeep.
As clientelas, porém, qual bezerro em vias de desmame, não se conformam e querem mais leite nas "suas" tetas.
Até que alguém gritou: Eureka! perdão, gritou: 'Oh! Teta!'.
Pensei até que era lapso e seria uma nova treta.
Não era.
Era, isso sim, uma nova teta!
E tratada com carinho: oteta, que quer dizer, como toda a gente sabe, uma otazinha, pequenina.
Mas, para disfarçar, chamaram-lhe ota e pronto.
Portanto, nova teta já há.
Agora é preciso enchê-la.
E não é com palha nacional, directamente, não. É muito mais refinado.
O úbere que alimentará a nova teta será injectado com leite em pó europeu (nós damos a água para a reconstituição do nutritivo alimento natural, que virá do Alqueva não se sabe bem como, mas isso agora não interessa para nada).
Isso dará a ilusão, por algum tempo, de que a vaca vende saúde.
Mas esse derradeiro esforço da pobre vaca poderá ser fatal, especialmente porque se conjugam vários factores adversos:
- São mais os que mamam nas tetas da vaca do que aqueles que contribuem com fardos de palha;
- A palha nacional é caloricamente fraca, produz pouco leite.
O que significa que, por esta via, no futuro dificilmente a vaca produzirá leite suficiente para as clientelas internas e ainda para exportação.
Calhando, o melhor mesmo é esquecer o problema da vaca.
Virem-se para os vossos quintais, para os vasos de flores, para as vossas varandas.
Plantem uma couve e mais as flores, criem uma ovelhazita e tenham a vossa própria teta privativa.
Calhando ainda, produzem excedentes e com eles sempre se pode comprar mais palha para alimentar a vaca.
Sim, porque no mundo global já não se pode imaginar um qualquer regime, mesmo democrático, sem sua vaca.
Xavier ieri, in Excêntrico
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