O ainda procurador-geral da República, Souto Moura, que abandona o cargo dia 9 de Outubro, queixou-se ontem, em entrevista ao semanário ‘Sol’ das pressões jornalísticas que sofreu e que teriam em vista “criar uma ruptura entre o Presidente da República [Jorge Sampaio] e o procurador-geral da República [ele próprio]”.
A justificar a expressão “pressionadíssimo”, Souto Moura aponta “jornalistas à porta de casa desde manhã ao fim do dia”.
INFLUENCIAR PRESIDENTE
No leque das “tentativas” de virar o Presidente contra si, Souto Moura inclui as notícias “da carta anónima, junta ao processo Casa Pia”, na qual “se falava de diversas figuras, incluindo o Presidente da República” e a publicação “dos nomes das fotografias que a Polícia usou para identificar pessoas”. De resto, o caso do Envelope 9 é por Souto Moura interpretado como “a derradeira tentativa de convencer” o PR a demitir o procurador-geral da República, “a uma semana de o Presidente cessar funções”.
CONFISSÃO DE INABILIDADE
Na entrevista, o ainda procurador-geral da República distingue duas fases do mandato, “antes e depois da Casa Pia”, processo a partir do qual se começaram a fazer sentir as pressões.Garantindo nunca ter sido alvo de pressões políticas “por parte do Governo” e dos quatro ministros da Justiça com quem trabalhou, Souto Moura diz ter retirado uma lição: “Não tive na devida consideração a força da Comunicação Social”, com a qual nunca foi capaz de lidar bem.
Depois de reconhecer que considerou demitir-se e que não o fez por pensar que havia “quem merecesse que continuasse”, como “as vítimas e a directora da Casa Pia”, Souto Moura confidencia a amargura de que “depois de aparecerem nomes conhecidos no processo, ninguém mais quis saber dos rapazes”.
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