A maioria dos 22 tribunais cíveis de Lisboa aderiu hoje à greve geral, mergulhando os corredores do Palácio de Justiça num silêncio sepulcral apenas perturbado pelo barulho das obras na fachada do edifício.
Além da maioria das 17 varas e dos cinco juízes cíveis, estava ainda encerrada a secção de requerimentos, enquanto a secretaria-geral cumpria apenas os serviços mínimos.
«Isto habitualmente é uma aldeia cheia de agitação e barulho, hoje está deserto», testemunhou à Lusa uma das funcionárias que estava a cumprir serviços mínimos na 9ª Vara, um dos poucos tribunais abertos, onde se fez um dos dois julgamentos previstos.
Na 3ª Vara, ainda que com atrasos, realizaram-se os dois julgamentos agendados.
«Fizemos o julgamento integral. Ainda há juízes que trabalham», disseram à Lusa os advogados dos litigantes numa acção de despejo.
Na 1ª Vara, um grupo de 10 vizinhos de um prédio em Benfica, testemunhas num caso de condóminos, esperaram mais de hora e meia do que o previsto para começarem a ser ouvidos.
«Tivemos sorte em ser ouvidos porque o tribunal está praticamente todo fechado», disse à Lusa uma das testemunhas, que chegou a recear que a greve lhe impedisse a audiência marcada desde Fevereiro.
No liceu Maria Amália, em Campolide, cumpriu-se a tradição e, segundo a coordenadora do pessoal auxiliar, ninguém aderiu à greve.
Na opinião desta responsável, as greves estão ultrapassadas como forma de luta.
«Eu própria fui grevista, mas desta vez decidi não aderir porque a carteira está muito em baixo e temos que nos deixar disso. É preciso poupar algum dinheiro porque estamos perto das férias», disse à Lusa.
Os alunos dividiam-se entre os que preferiam não ter aulas e os que defendiam que em alturas de exames não se podem dar ao luxo de ficar sem aulas.
«Estamos no 12º ano e temos de estar bem preparados para os exames», disse um estudante à Lusa, enquanto outro se lamentava por ter de estar na escola.
«Hoje não me dava jeito nenhum ter vindo», sublinhou sem justificar.
No 2º Bairro Fiscal de Lisboa, na Avenida António Augusto de Aguiar, os efeitos da greve sentiram-se sobretudo na Tesouraria, que está encerrada «devido à greve», como avisa um cartaz à porta.
Na zona do atendimento geral, Rosa Durão aguardava há poucos minutos pela sua vez para ser atendida.
«Nem parece a mesma repartição, a esta hora normalmente está cheia de gente», disse à Lusa, adiantando que, por recear que as Finanças estivessem fechadas devido à greve, veio primeiro «espreitar» o movimento e só depois entrou.
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